A profissão de coveiro exige muita fé. Lidar todos os dias com a morte pode acabar não sendo saudável para quem não tem crença nenhuma, como afirmou Mauro. “É comum no começo você ficar um pouco impressionado com o que vê, mas com o tempo e com a rotina tudo acaba ficando banal, mas é importante você crer em alguma coisa”, disse Mauro. Ele e o companheiro de trabalho são evangélicos e sempre que podem, costumam fazer orações para que todo espírito negativo de morte passe longe deles. “O mais importante para se trabalhar nesse serviço, é estar bem de espírito com Deus. Uma pessoa fraca não vai trabalhar direito, vai ficar impressionada. Temos que acreditar em Deus né, o resto a gente vai levando como pode”, me contou Antonio quando lhe perguntei se ele não tinha medo de assombrações, um assunto muito questionado por muita gente que fica sabendo que são coveiros. “Tem gente que tem medo de cemitério, mas isso aqui é uma paz, os mortos não estão aqui, só os restos mortais”, completou Antonio.
A morte não os assusta. Talvez por estarem todos os dias em contato direto com ela, aprendem a lidar mais fácil com o que consideram apenas mais uma etapa da vida. “O assunto aqui é só morte. Fulano que morreu, beltrano que está para morrer, então fica difícil fugir disso. Mas fora daqui a gente procura esquecer um pouco o assunto”, disse Mauro que costuma ouvir pessoas que vão visitar os túmulos e lamentam a perda dos entes queridos e gostam de contar como eram quando estavam vivos, e assim, vai acumulando uma bagagem de histórias tristes, histórias de perda, mas também histórias emocionantes. “Outro dia chegou um senhor aqui que queria encontrar o túmulo de um primo que havia morrido há muitos anos ainda criança. Eu o ajudei a achar o local onde o menino estava enterrado e era de chão batido. Uma semana depois ele voltou e mandou construir uma pequena caixa de cimento, colocou uma foto e uma dedicatória. Depois disse que poderia morrer em paz, pois tinha de alguma forma, perpetuado a memória do primo”, contou Mauro que afirma que essa foi uma das histórias mais bonitas que presenciou no cemitério.
Trabalhar o emocional pode ser difícil ao lidar com a dor, com a perda, conseqüências que a morte traz. Antonio que perdeu um filho de seis meses a alguns anos diz que o mais difícil é trabalhar em enterros de crianças e seus olhos se encheram de lágrima ao contar sobre o enterro de uma menina de cinco anos que teve que participar. “Quando cheguei no velório e vi a menina, parecia uma boneca, linda, linda. Voltei vinte anos atrás e revivi tudo de novo. Não consegui trabalhar naquele enterro, pedi para que outros fossem no meu lugar”. Antonio disse ainda que a fé em Deus o ajudou muito quando perdeu o filho e sempre que vê a dor das famílias que perdem um ente querido, ele entende o sofrimento e ora todos os dias para que Ele possa confortar o coração das pessoas. “Lidar com a morte não é fácil, mas precisamos ter força para continuar, pois a morte não é o fim”, acredita o coveiro.